sábado, 28 de setembro de 2013

Crise de arrogância

Eu sinto falta de você, do seu tédio
Do seu egocentrismo
Da sua falta de vontade e da sua intolerância.
Eu sinto saudade de quando você admirava os ídolos errados
De quando vivia se sentido mal por ser diferente
E de quando achava que sabia mais, mas não sabia.
Eu sinto falta da sua irritabilidade
De como chutava as coisas e socava as almofadas
De como sabia tão bem chorar em silêncio
De como sabia sufocar seus desejos
E de como as pessoas acreditavam que você realmente era tudo aquilo.
Elas só acreditavam porque eram crianças como você.
Eu sinto falta da sua arrogância instantânea, do modo como você atacava as pessoas
De como expressava sua raiva, seus vazios, suas faltas
De como você não queria ser feliz.
Eu lembro do dia que você tentou se matar
E lembro bem de como na verdade nunca teve coragem pra isso.
Eu lembro de como você se reconhecia naquelas músicas
E de como colocava tudo pra fora de uma maneira moderadamente destrutiva
Lembro de como você se afogava no próprio choro
E se revoltava com o fato de o seu pai não te amar.
Eu me recordo daquelas cartas tristes que você escrevia a você mesma, aos seus alter egos falsos, àquelas pessoas que nunca chegariam a ser destinatários.
Eu lembro de como a tristeza é um vício.
E de como é ondular entre realidade e o próprio mundo e não saber.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Canto da noite astral

Estou a tua espera
Aguardo-te com promessas
Os teus olhos são teus reis
Governam-te até a culpa

Estou na tua casa
Preparando teu jantar
Vestindo-me de nua
Definhando na tua ausência
Espalhando-me em teus detalhes
Afogando-me em teus lençóis

Pois tu és
Meu vício sem fim
Meu mar de agulhas
O barulho do trovão

És a minha rua
Meu encalço e minha fuga
Meu espelho e minhas mãos
Minha mágoa e minha profusão

Estás em mim
Como o brilho está na lua
Como o sangue está nos corpos
Como a madeira no papel

És pra mim
A minha única segurança
A porta que não se fecha
O pingo que nunca cai
O farol na escuridão
A seiva que me alimenta
A minha consciência
O ponto de sanidade
Minha ignorância, meu pecado
Minha indolência e minha punição

E tu não sabes
Mas adoro-te como um deus
Refaço cada palavra tua
Como se fossem perpétuos manás
Estás em evidência
Vejo-te, e apenas ti
resplandece sobre mim

Não preciso mais verbalizar o que quero
Apenas deixo rastros fluorescentes para você seguir com a sua imprecisão.

Queima-me com sua luz
Devora-me com sua escuridão.