quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Estrito

Várias coisas foram prometidas a mim
Por mim
E agora não posso mais me privar.
Prometi vontade, coragem, força de expressão
Jurei lealdade, verdade e realidade
E agora cometo perjúrio
Contra mim.

Fiz pontes com falsas cordas
Usei muros de vento para me resguardar
Cavei buracos em que eu mesma me afundei
Provoquei explosões em minha cabeça
E agora o cogumelo cinza não se acaba.

Construí ladeiras, elevações
Observei por cima das torres
Mandei drenar os lagos
Extingui toda a alegria
Reverenciei a miséria do espírito

Fiz do amargo pouco doce
E de sal me cerquei
Em noites sem vagalumes
Frio senti

Deixei a casa sem proteção
Sem as portas e sem as cortinas
Quebrei as camas
Ateei fogo nos portões
Fiquei sentada do lado de fora olhando
Esperando o nada me preencher

Penso em coisas disformes
Conturbações, depressões
Parece só o caos na rotina
Um pouco de omissão nos gestos
Pouca paz e outro rumo
Pouco conteúdo e vá-se a métrica
Muito distúrbio e pouca estética
Livre mundo e presa eu.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Spin

Saia de mim
Coisa impotente, corrupta e negligente
Afastem-se
Medo e vergonha e revolta
Vão.
Eu não quero mais nada disso aqui.

Quero um corpo puro
Só o mundo a corrompê-lo
Só a matéria a perfurá-lo
Mas nada mais de feridas internas.

Há muita coisa que precisa se ver fora
Mas não vê por onde sair
Há cacos demais no chão.
Meus pés estão cortados
Minhas vísceras estão palpitando
Sim, agora sou livre.

Todo mundo tem grandes problemas
Que não cabem em seus pequenos mundos
Não há alma livre sem perdão
Não há verdade sem solidão

Vida sem utopia
Noite sem pesadelo
Me levem daqui.
Só quero ver as pérolas mergulhando nas águas escuras.

sábado, 4 de junho de 2011

Elegia

O sorriso luminoso esconde
Mas você queima

E no seu cárcere mental,
Você
Se enrola e cresce
Desmaia e acorda
Luta e não vence.

Não consigo mais ver você sendo,
Tentando não ser.
Rasgando-se inteiro
Sangrando em silêncio

Você que berra
Mas não sabe falar
Que chora
Sussurra e implora
Ao tempo que transborda sensações
Intimida reações
E não sabe mais de nada

Você que chama e não escuta
Perde e não sente
Comete e não perdoa.

Eu quis que você se despedaçasse
Todas as vezes que você pensou e não disse
Quando quis e não tentou
Quando viu e fechou os olhos
Quando doeu e não chorou
Quando viveu e não sentiu.

Digo isso para você que sempre quis demais,
Mas sempre a mesma coisa
Digo isso para você, amigo
Que precisa sentir
Muito mais que tormento.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Condicional

Los Hermanos é o tipo de banda que quando alguém te conta que acabou você fala "ah não!", totalmente incrédulo. Infelizmente foi isso que aconteceu com a banda de Marcelo Camelo em 2007. Entretanto, isso não afeta a obra deixada pela banda. Entre as clássicas deles está "O Vencedor", que é realmente uma música de uma sonoridade elevada, "Morena", com aquela letra bonitinha (não consigo pensar em definição melhor), "Cara Estranho", que trás uma reflexão legal e um clipe muito simpático, e a mais tocada... um milhão de vezes tocada, repetida, remixada e nunca esquecida... ô Anna Júliaaaaaaaaaaaa aaaaaa...
Porém, pra mim a obra prima mesmo do Los Hermanos é uma música lançada em 2005, no cd Ventura, que não alcançou o sucesso estrondoso absoluto de Anna Júlia, mas que tem uma letra que vale por todas as melodias da banda: "Condicional".


"Quis nunca te perder
Tanto que demais
Via em tudo o céu
Fiz de tudo o cais
Dei-te pra ancorar
Doces deletérios

Eu quis ter os pés no chão
Tanto eu abri mão
Que hoje eu entendi
Sonho não se dá
É botão de flor
O sabor de fel
É de cortar.

Eu sei é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
O que eu preciso é lembrar, me ver
Antes de te ter e de ser teu, muito bem

Quis nunca te ganhar
Tanto que forjei
Asas nos teus pés
Ondas pra levar
Deixo desvendar
Todos os mistérios

Sei, tanto te soltei
Que você me quis
Em todo lugar
Lia em cada olhar
Quanta intenção
Eu vivia preso

Eu sei, é um doce te amar
O amargo é querer-te pra mim
Do que eu preciso é lembrar, me ver
Antes de te ter e de ser teu
O que eu queria, o que eu fazia, o que mais?
Que alguma coisa a gente tem que amar, mas o quê?
Não sei mais

Os dias que eu me vejo só
São dias que eu me encontro mais
E mesmo assim eu sei tão bem
existe alguém pra me libertar."

Composição: Rodrigo Amarante



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Animus laedendi

Eu não quero ser
Mais uma vítima urbana, insana, enlouquecida e cheia de arrogância
Eu não quero ser
Mais um refém da sua ignorância, discórdia, loucura e confusão
Eu não quero ser
Mais um corpo multilado na esquina, mais uma esquina interrompida que jaz no chão sem vida
Eu não quero ser
Mais um delito na lista da justiça.

Tudo o que eu queria mudar
É o que eu não sou  e o que eu não posso ser
Tudo o que eu queria saber
É como estancar essa fome de poder
Dê-me seu coração
E eu te digo a mais linda canção
Dê-me sua compreensão
E eu te ensinarei a viver mais um dia

Eu não quero ser
Mais uma empresa falida que implora o seu centavo:
Suado, roubado, cobiçado.
Eu não quero ser
Mais uma crinaça nua na estrada, que se exibe, que não se ama
Não se sabe se ainda quer viver
Eu não quero ser
Mais um pássaro torto trancado na droga da gaiola, a jaula inexistente,
tão presente, tão insuficiente
Mas eu preciso dela ainda
Para sobreviver, para conseguir sair, voltar, viver, sem ver
O que se passa
E o que está acontecendo de verdade
O que vem debeixo disso tudo que chamam de realidade

Mas você não crê
Porque foi violentado pelo seu pai
Sua irmã se prostituiu
E sua mãe está tentando curar mais uma farpa no coração

Mas você não vê
Porque queimaram suas pupilas com as cenas do teatro estúpido do errado.
Você não vê

E você queria entender
Mas não consegue porque inclodiram seu último neurônio com as substâncias túgidas do horror profano,
das lágrimas caídas na escuridão
daquilo tudo que é clandestino e nem se sabe mais setem explicação
Eu não quero ver.